Metaverso: distopia tecnológica ou novos modelos de negócio?


Luiz Eduardo Garcia da Silva – Pesquisador do iCoLab para Áreas Integradas

O metaverso configura uma plataforma de imersão em realidade virtual onde é possível realizar ações de maneira interativa com terceiros. O metaverso possibilita a abertura de um leque de atividades que aproxima, cada vez mais, o mundo virtual do mundo real com a vantagem (ou seriam desvantagens?) de que os limites impostos pelas distâncias ou leis físicas não necessariamente se apliquem. Como qualquer inovação, sua utilização e difusão dependerão de alguns fatores, incluindo a superação de alguns desafios. 

O termo “metaverso” foi cunhado por Neal Stephenson na obra de ficção científica de 1992 chamada Snow Crash. Assim como em outras obras do gênero que são situadas ou fazem referência a uma realidade virtual, como “Jogador nº 1 de Ernest Cline” por exemplo, o metaverso é retratado como um cenário altamente tecnológico, futurista, onde os protagonistas possuem conhecimentos avançados de computação e dominam facilmente os instrumentos daquele ambiente. Entretanto, via de regra, o metaverso é um espaço controlado por terceiros, quase um panóptico, promovendo um contexto social e político distópico e decadente. 

Obviamente que a conjuntura proposta nas obras de ficção científica são elementos narrativos que ajudam a promover ou destacar os conflitos vividos pelos protagonistas. Entre a ficção literária e a “realidade” do metaverso no cotidiano existe uma distância considerável ainda que o metaverso literário tenha servido de inspiração. O próprio Neal Stephenson reconheceu essa distância quando anunciou o lançamento de sua própria blockchain (LAMINA 1) voltada para a criação de metaverso. Em um tuíte do dia 8 de Junho de 2022 ele afirmou que em sua obra o metaverso é tratado apenas como realidade virtual, mas que na prática ele também pode ser considerado um projeto de realidade aumentada. 

Tecnicismos à parte, é importante destacar que o metaverso oferece um meio capaz de potencializar novas oportunidades de negócio além de facilitar formas de relacionamento social. Em tempos de Web3, que trata da inserção da tecnologia blockchain, a descentralização das organizações, a tokenização de ativos, emerge uma nova formatação de economia que democratiza a remuneração de quem oferta seus serviços. Mais do que apenas substituir reuniões presenciais por encontros virtuais, o metaverso permite explorar uma nova dimensão da vida em sociedade. Cada vez mais a interconectividade permite que os indivíduos utilizem essas plataformas como meios de autoexpressão e criação de comunidades que são compatíveis com a vida fora desse ambiente. Isto é, o metaverso é um complemento do mundo físico mas com a vantagem de comportar dimensões infinitas.  

Porém, esse potencial só será plenamente utilizado se for difundido e massificado. Acesso a internet, barateamento dos dispositivos eletrônicos necessários para uma boa experiência são alguns deles.  Considerando que muitos dos metaversos estarão vinculados a diferentes blockchains, a falta da interoperabilidade constitui também um fator que pode criar dificuldades na utilização das plataformas. Ou seja, a fluidez das redes (seamless) nas quais os metaversos estarão imbuídos é um ponto a ser considerado na utilização dessa tecnologia no futuro próximo. A dificuldade de acesso e uso também são potenciais impeditivos caso as plataformas de metaverso sejam de difícil utilização. A boa notícia é que geralmente as tecnologias passam por melhorias e aperfeiçoamentos que barateiam e facilitam a experiência dos usuários.  

Enfim, talvez o metaverso de 2022 seja bastante diferente daquele pensado originalmente nas obras de ficção científica há 30 anos atrás e isso pode ser uma grande vantagem desde que seja possível superar alguns dos principais desafios ou obstáculos apresentados. Por outro lado, o desenvolvimento e difusão de ferramentas tecnológicas não depende apenas da capacidade de processamento dos aparelhos eletrônicos. Antes de mais nada, elas devem resolver problemas de forma mais eficiente do que aquelas das quais atualmente nossa realidade já oferece. Por eficiência subentende-se menores custos financeiros para operá-lo, tempo de aprendizagem, rapidez de resolução de problemas, dentre outros fatores que o tornem mais atraente de soluções alternativas.  

Portanto, a evolução do metaverso foge da ideia de uma distopia futurista e nos próximos anos a tendência é a de se alinhar aos novos modelos de negócio que ele oferece. O que será feito depende também das soluções que o próprio metaverso irá propor ou dos problemas que ele facilitará solucionar.  

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