FINANÇAS DESCENTRALIZADAS (DeFi) – UMA ABORDAGEM SISTÊMICA


Blockchain Economics; Cryptoassets; DeFi; Decentralized Finance; Innovation por Francisco Andrade – Pesquisador do iCoLab

Evolução da internet

Por quase quatro décadas, existiu somente a Internet da informação, que por sua vez, melhorou muito o fluxo de dados dentro e entre empresas e pessoas, mas não transformou a forma como os negócios são realizados. Agora, através da tecnologia Blockchain, deve-se caminhar para a internet do valor, (Figura 1).

              Figura 1 – Evolução da internet. 

A Internet foi projetada para mover informações, não valor,  de pessoa para pessoa, por isso a utilização em larga escala de poderosos intermediários (“middle man”) para estabelecer confiança e manter a integridade das transações. 

A centralidade favorece às atividades de bancos, governos e até grandes empresas de tecnologia na confirmação de identidades dos entes econômicos ao permitirem a transferência de ativos; compensação e liquidação de ordens e manutenção de registros dessas transferências. As finanças descentralizadas, permitem repensar completamente as estruturas existentes hoje, redesenhando a fundo, o arcabouço tecnológico, legal e comercial do sistema financeiro tradicional. 

As limitações operacionais desses intermediários estamparam a vulnerabilidade a hackers, funcionários desonestos, fornecedores igualmente vulneráveis, entre outros aspectos, criando o cenário para o desenvolvimento de tecnologias seguras e confiáveis, a exemplo da Blockchain, cuja natureza descentralizada tem como objetivo essa solução que tem, por si só, a atribuição de valor a quem de fato tem sobretudo, na cadeia de suprimentos (supply chain), seja ela indústria, comércio ou serviço (TAPSCOTT; TAPSCOTT, 2016).

Finanças Descentralizadas (DeFi)

A Blockchain associada ao Bitcoin já nasceu com essa ideia, só não havia ecossistema suficiente para a evolução da DeFi. O grande carro chefe, foi o surgimento da rede Ethereum, que trouxe uma Blockchain programável, permitindo a criação de contratos inteligentes (smart contracts), e consequentemente DAOs (Organizações autônomas descentralizadas).

A arquitetura descentralizada das DeFis surge através dos DApps (“aplicativos descentralizados”) que são programados para executar funcionalidades financeiras em Blockchains. O uso de DApps permite que os usuários não apenas ignorem as instituições financeiras tradicionais, mas, também, eliminem estruturas de liquidação, custódia e outros serviços agregados (CHOHAN, 2021).

Ao comparar a Blockchain do Bitcoin, poderíamos considerá-la um excel® puro, e a Blockchain da rede Ethereum, seria um excel® com macros, ou seja, um excel® programável (Visual Basic for applications – Macros for excel®). Por isso, o aumento, em larga escala, suas possíveis aplicações (Cryptopia, 2020).

Os projetos considerados DeFi são tipicamente a junção de protocolos de código aberto, que possuem características de interoperabilidade ​​e baseados em contratos inteligentes construídos em Blockchains públicos, como o Blockchain Ethereum (ETH), para executar funções de serviços financeiros; são códigos em uma plataforma Blockchain que realizam ações automaticamente, conforme os termos de um contrato, sem a necessidade de um intermediário, conforme Figura 2.

Figura 2 – Finanças Tradicionais e Finanças Descentralizadas. 

Como as infraestruturas públicas de Blockchain que suportam contratos inteligentes fornecem uma plataforma para a criação de módulos financeiros, tais como derivativos, gestão de ativos, empréstimos e muitos outros, eles se assemelham a sistemas operacionais móveis, como iOS ou Android em seu conceito de ecossistema.

No entanto, os ecossistemas baseados em Blockchain, em sua maioria, possuem o código fonte público, dando aos desenvolvedores e usuários um alto grau de transparência na lógica de negócios. Além disso, não há um proprietário claro da infraestrutura Blockchain e nem a implementação nem o uso de dApps podem ser restritos.

Através dessa tecnologia, os serviços financeiros descentralizados têm o potencial de expandir a inclusão financeira, facilitar o acesso, incentivar a inovação e criar novas oportunidades para empreendedores. Como uma nova área da tecnologia financeira, as finanças descentralizadas podem remodelar a estrutura das finanças modernas e criar novo cenário para o empreendedorismo e a inovação, mostrando as promessas e desafios dos modelos de negócios descentralizados. (CHEN; BELLAVITIS, 2020).

Essas propriedades permitem a criação de aplicativos altamente abertos e interoperáveis, permitindo a cocriação de serviços financeiros inovadores e com alto poder de disrupção, podendo mudar toda a lógica de spread bancário e intermediação atualmente existente. (EIKMANNS, et al., 2021).

Referências

BENSTON, G. J.; SMITH, C. W. A Transactions Cost Approach to the Theory of Financial Intermediation the Thirty-Fourth Annual Meeting of the American Finance Association Dallas , Texas Published by : Wiley for the American Finance Association Stable URL : http://www.jstor.com/stable/2. v. 31, n. 2, p. 215–231, 1976.

CHEN, Y.; BELLAVITIS, C. Blockchain disruption and decentralized finance: The rise of decentralized business models. Journal of Business Venturing Insights, v. 13, n. November 2019, p. e00151, 2020.

CHOHAN, U. W. Decentralized Finance (DeFi): An Emergent Alternative Financial Architecture. SSRN Electronic Journal, 2021.

CRYPTOPIA. Direção: Torsten HoffmannMichael Watchulonis. Participação: Vitalik ButerinAndreas M. Antonopoulos. Produção de Village Amazon Prime. 2020.

EIKMANNS, B. C. et al. Is Ethereum the New iOS? Exploring the Platform Economy of Decentralized Finance. SSRN Electronic Journal, p. 1–11, 2021.TAPSCOTT, Don; TAPSCOTT, Alex. Blockchain revolution: how the technology behind Bitcoin is changing money, business, and the world. Penguin, 2016.

Grupo WhatsApp
host