Requisito essencial para os apreciadores de um bom vinho, que buscam cada vez mais conhecer a procedência e os métodos de produção de sua bebida favorita, a Denominação de Origem/Indicação Geográfica está ganhando novos contornos no Vale dos Vinhedos, região da Serra Gaúcha, Patrimônio Histórico e Cultural do estado do Rio Grande do Sul.
Em uma iniciativa inédita, fruto da colaboração entre Sebrae XLab, iCoLab – Instituto Colaborativo de Blockchain, a APROVALE – Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos, e as vinícolas Dom Cândido e Pizzato Vinhas e Vinhos, o projeto Origem RS inova no reconhecimento da Indicação Geográfica ao registrar a Denominação de Origem Vale dos Vinhedos (D.O.V.V.) com rastreabilidade digital em blockchain. A abordagem pioneira explora as potencialidades da microeconomia tokenizada, habilitada pela tecnologia blockchain, incluindo todo o histórico de produção do vinho a partir da captura de um QR Code impresso na garrafa.
A ideia surgiu em 2023, durante um workshop ministrado pelo iCoLab ao time do Sebrae RS, abordando a temática de Agrotech dentro das novas economias mapeadas pelo Foresight. Como resultado, surgiu o desdobramento para a rastreabilidade no agronegócio com a tecnologia de blockchain, levando ao desenvolvimento de um MVP (mínimo produto viável). Bernardo Madeira, especialista em blockchain da Interchains, empresa de tecnologia associada ao Instituto, classifica o projeto de rastreabilidade e certificação digital dos processos para a Denominação de Origem Vale dos Vinhedos como ‘fantástico’ e que vai além da simples digitalização. Segundo ele, a plataforma ‘marca um contexto histórico e único no mundo, um diferencial, já que o sistema registra todo o ciclo produtivo do vinho’. Com esse sistema, relata Bernardo, “é possível registrar toda a documentação da vinha, passando pelo registro da área produtiva, identificação de parcela de plantio e especificações da uva, até as características da bebida produzida e seu histórico de produção.”
De acordo com Sandra M. Heck, cofundadora e vice-presidente do iCoLab, que executou a orquestração das instituições envolvidas e a gestão deste projeto, “ao usar a tecnologia blockchain, conhecida por sua transparência, confiança, segurança e eficiência, além de proporcionar o selo digital de autenticidade do vinho (D.O.V.V.) e dar visibilidade aos consumidores quanto à sua procedência, beneficia as próprias vinícolas, na identificação rápida de possíveis fraudes do seu vinho e na execução dos contratos (smart contracts – regras de negócio) de forma automatizada, reduzindo fricções e tempo de operação. Com os registros em cada etapa, da vinha ao vinho, a análise de conformidade e certificação, que é feita pela associação, passa a ser também digital, de forma imutável e descentralizada.’ Sandra acrescenta ainda que ‘esta iniciativa incrível do Sebrae RS e do XLab habilita a exploração do potencial da microeconomia tokenizada (representação digital) de produtos de Denominação de Origem/Indicação Geográfica, ampliando ainda mais as oportunidades para novos modelos de crédito empresarial no ecossistema vitivinícola, com a coexistência entre o físico e o digital (RWA – ativos do mundo real) numa economia global.”
Para o Sebrae RS, que tem como compromisso apoiar e impulsionar micro e pequenas empresas através da inovação no estado, o objetivo foi dar um passo significativo em direção à inovação e transparência de um setor tradicional. Segundo a Especialista de Inovação do Sebrae/RS, Dafne Agarrallua, “esta é uma iniciativa que promete transformar a forma como a autenticidade e a qualidade dos vinhos com denominação de origem são garantidas e rastreadas.’ e, da mesma forma, ‘queríamos garantir que o Rio Grande do Sul fosse pioneiro nesta iniciativa.”
Também participante do projeto, a APROVALE, entidade reconhecida oficialmente como gestora da Indicação Geográfica do Vale dos Vinhedos, assume um papel chave na adoção de inovações para melhorar o processo de certificação. O consultor Jaime Milan acredita que os exemplos proporcionados pelos associados pioneiros (as vinícolas Dom Cândido e Pizzato) no uso da tecnologia blockchain trarão, em breve, um número significativo de novos participantes. Para ele, “todos os projetos que visam a integração e o desenvolvimento da Comunidade do Vale dos Vinhedos são importantes para a APROVALE. Este, que nos proporciona a participação em um seleto grupo de entidades de visão e responsabilidade, nos é muito caro. Razão pela qual agradecemos a oportunidade que nos foi concedida pelos apoiadores, empresas e técnicos que dedicaram muito trabalho e conhecimento.’ Ele salienta que, por ser inovador, o tema necessita de divulgação e informação: ‘os nossos consumidores precisam conhecer o tema, para poder valorizar todo este esforço que está sendo realizado.”
Vinho tokenizado: uma nova experiência de consumo
Originário da Argentina, Bernardo considera o vinho uma sensação e afirma que “comprar um vinho tokenizado é mais do que uma compra, é investir em uma experiência única”. Ele diz que a cultura do vinho está no seu sangue e que isso o aproximou ainda mais do projeto: “aos meus 18 anos, comecei a estudar e aprender sobre os segredos do vinho. Hoje, aos 50, minha paixão pela uva cresceu. E, graças à tecnologia blockchain, cada garrafa me conta sua história detalhada, desde o seu nascimento. Amantes do vinho poderão adquirir antecipadamente garrafas de parcelas produtivas antes das uvas serem colhidas, a um preço diferenciado do oferecido na ponta. Isso sim é uma experiência personalizada!’, conclui o especialista.
Dar mais transparência e confiabilidade à denominação de origem do vinho é um dos objetivos deste projeto, além de proporcionar uma experiência personalizada aos consumidores a partir da tokenização de um ativo real. A ideia foi abraçada pelas vinícolas Dom Cândido e Pizzato, que aceitaram o desafio de se tornarem pioneiras desse projeto. Fundada em 1986, a Vinícola Dom Cândido, reconhecida vinícola boutique produtora de elegantes vinhos, tanto jovens quanto de maior complexidade, traz o pioneirismo no seu DNA. Vicenzo Fávero Goelzer, representante da Dom Cândido no projeto, conta que o foco da vinícola hoje é em produtos exclusivos e que “a tokenização caiu como uma luva. Eu digo que ela serviu à Dom Cândido, da mesma forma que a Dom Cândido serviu a ela. É uma vinícola revolucionária por natureza, sendo uma das primeiras do Brasil e uma das primeiras do Vale dos Vinhedos, que é também a primeira denominação de origem do Brasil.”
Advogado com atuação em direito digital, tributário e civil, Vicenzo acompanhou de perto a execução do projeto e enaltece a proposta pelo valor que ela agrega à experiência do consumidor, não só para a Dom Cândido, mas também para a Pizzato e outras vinícolas que possam aderir ao projeto futuramente. Para ele, “o mercado do vinho é um mercado que depende muito da confiança. Para você gostar de um vinho, você precisa de paladar, olfato. Muitas informações, muita cultura, muita história estão engarrafadas ali. Você traduz muito do clima, do terroir de uma região, só pelo que está envasado dentro daquela garrafa, e de qual varietal [de uva] está plantada ali. É muito importante poder transparecer para as pessoas, mostrar para elas, como consumidoras, o que de fato elas estão bebendo.”
Constituída em 1999, a PIZZATO Vinhas e Vinhos é conhecida por produzir espumantes e vinhos de identidade única, com seus rótulos destacados em degustações e painéis de vinhos brasileiros e internacionais. A vinícola atua tanto no mercado doméstico quanto no externo, com 6 destinos regulares e mais de 12 esporádicos. Flavio Pizzato, proprietário da vinícola e enólogo-chefe, entusiasta do projeto desde o início, tem atuado ativamente na disseminação do processo junto à APROVALE. Ele avalia a participação no projeto como uma experiência ímpar: “Quando o SEBRAE RS nos procurou, como associação de produtores, tivemos algumas incertezas quanto à aplicabilidade e temporalidade para o uso do blockchain”. O produtor atribui à fase do ano, em que o projeto foi desenvolvido, a dificuldade em acompanhar a velocidade de desenvolvimento das ações. “Era um período de pré-colheita e colheita, tempo em que nos dedicamos totalmente à vindima, para não perder o melhor momento para o processamento da uva sã e fresca”, completa. Entretanto, para a Pizzato, que é uma das vinícolas com maior número de rótulos com Denominação de Origem Vale dos Vinhedos (D.O.V.V.) – são oito vinhos e espumantes –, o projeto está em execução, com os tokens sendo acessados através das páginas de cada vinho certificado. Flavio enaltece, por fim, o trabalho realizado no projeto que, em sua visão, alcança aquele consumidor que busca valor agregado, que valoriza o vinho como uma experiência intrínseca ao produto e também presencial na geografia de origem, relacionando os momentos de prazer com o produto e sua procedência, tendo a garantia da certificação trazida pela tokenização.
Blockchain.RIO 2024
No mês de julho, o case “Vinhos e Blockchain: um motivo para brindar” foi apresentado em um painel no Blockchain.RIO 2024, o maior e principal evento do ecossistema blockchain na América Latina. Na ocasião, Sandra M. Heck (iCoLab), Bernardo Madeira (Interchains) e Vicenzo Goelzer (Dom Cândido) compartilharam com os presentes a experiência de construção do projeto. Mais do que isso, apresentaram o resultado concreto da iniciativa: o primeiro vinho, de fato, tokenizado. “Um Merlot D.O. Safra 2020, que, diga-se de passagem, é a melhor safra da história do Vale dos Vinhedos, a safra do clima perfeito. O primeiro vinho tokenizado, com QR Code atrás da garrafa, que a Dom Cândido já está introduzindo nos seus produtos”, declarou Vicenzo, entusiasmado com a oportunidade.
Coroando a experiência, a bebida foi degustada na festa de comemoração dos 5 anos do iCoLab, que reuniu diretoria, associados e parceiros do Instituto na noite de 24 de julho. Para Vicenzo, apresentar o produto e degustá-lo em um momento tão especial foi uma sensação única. “Não tinha gente melhor para dividir esse vinho comigo do que o pessoal do iCoLab, que tornou isso tudo possível. Nós pudemos levar esse vinho para lá, mostrá-lo, apresentar o projeto e sustentar sua factibilidade, porque ele está acontecendo, não é só uma teoria, foi sensacional”.
Hospedado na plataforma Polygon, uma estrutura capaz de suportar uma série de aplicações descentralizadas (dApps) e impulsionar o uso de tokens não fungíveis (NFTs), o certificado de rastreabilidade digital e Denominação de Origem do Vale dos Vinhedos em blockchain representa não apenas uma evolução na indústria vinícola, mas também um exemplo de ecossistema e como a colaboração entre os integrantes da cadeia produtiva pode impulsionar a inovação. Vicenzo Goelzer explica que o projeto “consiste basicamente em tokenizar, ou seja, transformar aquela informação que diz respeito à Denominação de Origem do Vale dos Vinhedos em um fato. Isto é, pegamos as informações, que antes apenas a APROVALE, a associação de produtores do Vale dos Vinhedos, detinha em sua posse e as colocamos numa blockchain que é descentralizada, ou seja, torna-se uma informação num fato, algo imutável”.
Entregar este projeto inovador para a serra gaúcha é mais do que uma conquista; é um brinde ao futuro e à história que estamos construindo juntos, especialmente ao celebrarmos os 5 anos do iCoLab, sempre na vanguarda da inovação. Afinal, inovar é transformar histórias em legados.
O projeto Origem RS será destaque na Mercopar 2024!
Não deixe de aproveitar a oportunidade para conhecer mais sobre este projeto relevante diretamente com os representantes de cada instituição que estarão no evento para compartilhar detalhes e responder suas dúvidas. Não perca!
Aqui estão algumas imagens da reunião de encerramento deste projeto, que foi concluído com sucesso, conforme a avaliação dos participantes envolvidos.
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